Julgo a Vida uma taça,
porque a vida Tenho passado bêbado, sonhando:
Bêbado, sinto o coração cantando
E a alma de estranha embriaguez vencida.
Ébrio do sonho, sonhador eterno,
Nos meus sonhos de bêbado diviso
O amor a conduzir-me ao Paraíso,
Ao mesmo tempo que me leva ao Inferno.
Ai! Eu tenho esvaziado a Grande Taça,
Numa sede de ardência e de frescura,
Desde o néctar bendito da ventura
Ao tóxico travoso da desgraça.
Foi-me a primeira lágrima vertida
A origem da ternura – quinta-essência
Dos sorrisos e beijos da inocência,
Vindos do amor de minha mãe querida.
E esse filtro divino era tão doce,
Possuía uma tal suavidade,
Que a própria essência da Felicidade
Eu julguei muitas vezes que ele fosse.
Depois das ilusões na quadra flórea,
Bebi um vinho cálido e esquisito,
Talvez o licor mágico da Glória,
Feito das uvas claras do Infinito.
Nas nevroses do gozo, por que ama |
E o faz na mesma chama consumido |
Vinho que torna o coração em chama
Vinho de sons, de aromas, de esplendores,
Vinho da vinha de ouro das estrelas,
Ele chegou-me muitas vezes pelas
Estradas duvidosas dos amores...
A ponto de me encher os olhos d’água |
Da saudade, da dúvida e da mágoa,
Que me arrastou ao desengano eterno,
Na angústia enorme do pesar que sinto |
- O veneno letífero e do tédio,
Para o qual não encontro um só remédio,
Já eu tenho a minha alma combalida,
Mártir da dor e vítima do mundo,
E muito hei padecido, antes que ao fundo
Chegue da taça trágica da Vida.
Embora! Vou lutar de encontro à sorte,
Antes que o sonho esta ventura finde,
Até erguer o derradeiro brinde
No festim eucarístico da Morte!
Bêbado eu vivo de ilusões formosas
E temo, certas vezes, que endoudeça
Minha triste e feíssima cabeça,
Coroada de estrelas e de rosas.
O mais feliz dos bêbados do Sonho |
Alucinado todos os sentidos,
O mais feliz vencido dos Vencidos,
Porque a Vida é uma taça | |
Tenho passado bêbado, sonhando |
E a alma na eterna embriaguez perdida
obra: Sangue
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